Luís Simões, travel sketcher around the world
…e se me apaixonar?
Espanha, Sevilha – 26 Abril 2012
A Féria de Primavera em Sevilha é uma festa que recebe centenas de pessoas e mexe com todos os nossos sentidos. Cavalos puxam charretes atulhadas de homens e mulheres que exibem as suas vestes. Eles, vestem-se de chapéu, colete, casaco, calça justa e um tanto subida para se ver bem o botim. Elas, espalham as cores vibrantes dos vestidos flamengos deliciosamente elegantes e decotados, às bolas ou às riscas, decorando o cabelo com uma flor e na cara um sorriso atrevido. Contam-me que a Féria foi em tempos um espaço de negócio de animais e produtos alimentares. Hoje a Féria é outra e para bem do negócio e das aparências, todos os anos existem modelos diferentes de vestidos flamengos para se comprar e estar na moda. Alheio a isto estou eu que vou regalando os olhos com tanta folia. Existe um mapa que informa cada zona, cada estrada, cada “Caseta”. A “Caseta” é onde tudo acontece.
Aqui só entra quem é dono, ou é amigo do dono. É o meu caso! Ambiente divertido na companhia de amigos, acabados de conhecer, que nunca me deixam ter o copo vazio. Perguntam-me o que faço ali e lá volta o discurso ensaiado, que dependendo do interesse do ouvinte, conta-se com mais ou menos minúcia. Ouvem-se músicas, tocadas com guitarra flamenga e flamengas de braços no ar a dançar. Cada “Caseta” tem a sua própria música, o seu bar, as suas mesas e cadeiras e a sua gente.
No meio da agitação, há um rosto envergonhado que se destaca. Aproximo-me. Conheço a Ana. Tudo começa com uma simples pergunta: “como se tocam as castanholas?”. Uma pergunta que durou, pelo menos, duas horas de conversa. Sevilhana de gema e trajada como uma flamenga, Ana, sorria-me com os olhos. Os seus lábios, pintados de vermelho quente tal como as cores do seu vestido, colaram-se aos meus olhos. Os folhos do seu vestido listado a vermelho e cinza no tronco, mascaravam a hipótese de se conhecer os elegantes sapatos. Porque à noite está sempre mais frio, cobria os seus ombros com o típico xaile, também ele negro. Duas rosas, uma vermelha, outra branca, coloriam o seu cabelo escuro, bastante descontraído. E os seus olhos iam sorrindo conforme falávamos.
A vida, naquele momento, era encantadora. Mas não é fácil para quem não tem um posto fixo para nos podermos voltar a ver. Há coisas que prefiro nem pensar, nem arranjar uma explicação para te ter conhecido. Sinto que queria ficar mais tempo na tua companhia, Ana. Saber o que te faz feliz. Uma despedida quase vulgar e nervosa deixa-me a pensar porque raio tenho que me ir embora amanhã. Meto a razão à frente do que sinto para fazer de escudo. Uma falsa protecção. Sei o que vem lá, depois do que senti e tenho que me proteger de alguma maneira. Estou sozinho e tenho vontade de falar. Converso comigo.
Simões: Deixa lá isso, amanhã é outro dia, já te podes dar por contente por a ter conhecido.
Luís: É, mas vai custar.
Simões: Vais encontrar mais gente interessante pela frente, pá, anima-te!
Luís: Sinto que aqui, seria feliz. Uma felicidade por descobrir tal como eu gosto! Tenho a boca triste e os olhos molhados. Gostei do que senti e fez-me perceber o quão vivo estou.
Simões: Estas demasiado descomprometido e depois dá nisso, é o que é! E ainda agora começaste pá. Vá, anda lá e vamos embora para casa.
Luís: Uma conversa banal, transformou-se numa vontade louca de a querer levar comigo.
Simões: Tretas… nem lhe perguntaste se queria vir?
Luís: A sua resposta seria pior se fosse falada. Preferi ter a ideia que me iria dizer que sim, se a voltar a ver.
Simões: Volta lá e diz-lhe o que sentes. Amanhã podes tentar vê-la outra vez, ela não trabalha. Amanhã perguntas-lhe isso.
Luís: Só sei que se chama Ana. Não tenho mais nenhum contacto…
Simões: Nem o número de telefone tens? Então esquece isso pá, domingo já te passou. Agora temos um autocarro para apanhar.
O autocarro acaba de sair, dizem-me. Sento-me no chão. A ideia de que isto vai acontecer mais vezes não me conforma. Saber que não lhe disse o que mais queria, ainda pior. São momentos raros e tenho que ir aprendendo com eles. Daqui por uns dias será mais uma pessoa que passou na minha vida. O tempo encarrega-se de desvanecer o que o peito agora transborda em cores. Se te voltar a ver, Ana, digo-te tudo o que escrevi e o que senti. Sevilha recebeu-me, marcou-me e mudou-me. Vivi uma semana da minha vida recheada de momentos inesperados e de energia positiva. Se agora, continuo, sem fazer sentido continuar, no futuro vou voltar com vontade de querer ficar. Ate já Sevilla!
Se realmente fizer sentido ela estará no mesmo lugar daqui a 5 anos. À tua espera. Lindo texto. Boas viagens.
Luis:
Eu, portuguesa, leitora, mulher de 60 anos, tendo lido com imensa atenção, e gosto, e felicitando-o por se ter apaixonado pela Ana, ( quando o coração faz os olhos ficarem molhados…) 🙁 …. quero dizer-lhe uma coisa: – há-de voltar sempre a Sevilha! Depois, Deus dirá! E, o mundo está a dois passos! Felicidades! Gosto muito do que faz! chorei com sua crónica, ela me fez “retroceder” a outros tempos…que já não voltam mais…. Era tempo de partidas e chegadas, impostas!..marcadas pela vida de Lisboa, onde vivi, quando tinha a sua idade.Só temos uma Vida para viver! força, e boa Viagem! Inês
… E tudo se passa por alguma razão… O que é nosso sempre o será de uma forma ou de outra. E o tempo…esse dirá a resposta.
Bonitas as palavras e os sentimentos que foram transmitidos!
Continuação de bons Ventos =)
não deixes esse sentimento passar por ti…
“Quem ama acredita, mas não sabe bem porquê, não sabe bem o quê, nem percebe bem como.”
~
não deixes esse sentimento passar por ti…
“Quem ama acredita, mas não sabe bem porquê, não sabe bem o quê, nem percebe bem como.”
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Me alegro muchísimo de todas las experiencias vividas y por vivir…te deseo lo mejor en el proyecto ya que lo mereces y estás haciendo un gran trabajo, un regalo para el mundo y por tanto para todos nosotros. Muchas gracias por eso y por todo 🙂
Historias con mucha alma y dibujos de gran fuerza e intensidad.
Apaixonado e apaixonante…