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Quanto pesa a tua mochila?

Despejei toda a mochila e comecei a contar as t-shirts, roupa interior, calças, camisolas, tenis, cadernos, canetas, clipes, pincéis…

– Bolas, que me dói as costas e os ombros. Maldita mochila que está pesada! Sei que tenho ai meia dúzia de coisas que podia dispensar, mas ainda assim preciso de quase tudo.
– Quanto pesa a tua mochila?
– Não sei quanto pesa, mas agora que a larguei é que sinto como estou mais leve.
– Experimenta tirar o que tens ai dentro para perceberes se precisas disso tudo.

Despejei toda a mochila e comecei a contar as t-shirts, roupa interior, calças, camisolas, tenis, cadernos, canetas, clipes, pincéis…

– Caneco, não te consigo dizer. disse eu desolado.

Estava tudo ali à nossa frente. Dividido por sectores. Roupa por camadas, mais quente, mais leve. Material de desenho. Não tinha mais que um metro quadrado tudo junto.

– Então, quanto pesa a tua mochila? – pergunta-me outra vez.
– Não sei, uns quinze quilos… é isto que estás a ver! E alguma coisa ficou pelo caminho. – disse eu.

Pegou na mochila completamente vazia e perguntou-me:

– Tens a certeza que tiraste tudo o que estava cá dentro? – Agitando-a, para ver se caía alguma coisa.
– Sim! Está completamente vazia não tenho mais nada.
– Então, mete-a lá às costas. – Disse-me em jeito de ordem e sentou-se.
– Que tal, quanto pesa a tua mochila?
– Assim vazia… deve pesar uns três quilos… talvez, não tenho uma balança dentro de mim.

– Fez-se em silêncio. Levantou-se. Olhou para mim. Colocou-me a mão direita no ombro esquerdo e disse-me:Pois deixa-me que te diga que ainda carregas muitos quilos nessa mochila. Andas a levar coisas que só te pesam nas costas e não te deixam endireitar, rapaz. Eu sei que tens uma vida inteira para conquistar, mas lembra-te de chorar quando não o queres mostrar. Lembra-te de seres tu quando te olhares ao espelho. Não te culpes pelo que fizeste, mas pelo que ainda estás a pensar que devias ter feito, ou mudado. Não carregues tudo o que querias ter dito ou dado e que nunca chegaste a fazer. Se não te pertence, se não te fez bem, se já ficou longe é porque tens que largar. Saber largar, ter paciência e apreciar os pequenos momentos da vida, são coisas que deves meter nessa mochila. Vais ter que os teus ombros vão agradecer.

Refaz a mochila com esperança em ti próprio. Mantém na tua cabeça que tu és o teu destino e que mudarás sempre que não gostas de algo. Lutarás sempre quando te sentires em perigo. Irás decidir e descobrir o teu caminho mesmo que o mundo te queira ver ao contrário. Irás fazer o impossível pois só tu verás que era possível. O que tens hoje nessa cabeça, é o teu passado. No teu peito, no teu coração está o presente e é esse que te fará caminhar. Viajar sozinho e leve é o primeiro passo para nos conhecermos melhor e tu ainda não te conheces assim tão bem.

Isto passou-se ao fim de um dia e meio em viagem entre vários comboios desde Helsingborg até Amesterdão.

Luís Simões
Luís Simões

Em 2012 comecei a World Sketching Tour e desde então, esse tem sido o meu estilo de vida. Mais intenso, mais para os outros, mais aberto sobre como olhar e julgar. A viagem fez-me sair de rotinas e lugares seguros, que muitas vezes me deixam dormente, só de ver a vida passar lentamente. O desenho despertou a minha curiosidade para o "como será do outro lado da montanha".

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6 comentários

  1. Que texto fantástico, Luís!
    E deixa-me que te diga… Tu, os teus sketches e as tuas crónicas são imprescindíveis na minha “mochila”!!!
    Feliz Ano Novo!!!
    Grande abraço.
    Clara

  2. Muito obrigado Clara 🙂
    É uma alegria sentir a tua força!
    2013 será um ano de mudança de continente e com ele mais aventuras, sketches e crónicas. Vamos lá continuar e feliz ano novo!

  3. Nao sei o q dizer perante o q partilhaste aqui. A vida e sem duvida uma viagem e pelo caminho encontramos muitos momentos importantes q nem sempre os identificamos. Felizmente não e o teu caso:) feliz ano !

  4. Linda a tua reflexão Luis, mas com o tempo verás que todos nós carregamos com mais “peso” que aquele que temos capacidade a isso se cham sofrimento, mas também a vida é feita disso. Beijinhos da 2ª prima que te acompanha. Raquel

  5. BELA REFLEXÃO LUÍS TODOS NA NOSSA VIDA TEMOS DE CAR-
    REGAR COM MAIS OU MENOS PESO;SÓ QUE POR VEZES HÁ
    CERTOS PROBLEMAS QUE NÃO CONSEGUIMOS QUE ELES
    ALIVIEM O PESO DA NOSSA MOCHILA,OU SEJA COMO DAR A
    VOLTA POR CIMA E ENCARAR A SITUAÇÃO COM GARRA E
    ESPERANÇA EM MELHORES DIAS,COMIGO SE PASSA MUITO
    ISTO.FORÇA E CORAGEM,POIS AINDA TENS MUITOS QUILÓ-
    METROS A PERCORRER E UMA LONGA VIDA A VIVER,CON-
    TINUA COM TEUS BELOS SKETCHES POIS NADA MAIS SALU-
    TAR DO QUE PUDERMOS FAZER AQUILO QUE GOSTAMOS.

    ANTÓNIO VINHA
    (ARTISTA PLÁSTICO)

  6. Sinto uma admiração incrível por pessoas q são capazes de largar tudo e perseguir os seus sonhos e com isso tambem para se encontrarem a si próprios fazendo q com a partilha dessas experiências estejam de alguma forma a ajudar outros q apesar de nao terem essa coragem, disponibilidade ou por qualquer outro motivo…
    A minha mais sincera admiração e respeito… E continuação de boa viagem… 😉

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